Murialdinas

Jéssica Labatut: Formada em Psicologia, Especialista em Terapia Cognitivo Comportamental. Coordenadora do Centro Profissional para a Cidadania – Associação Murialdinas de São José.


Fomos pegos de surpresa por essa doença, isso é um fato mundial. Mas mais surpresos ficamos ao nos depararmos com uma instituição que a 21 anos estava sempre repleta de rostos felizes, ficar atônica. O vazio nos assusta, tanto quanto as incertezas do futuro.
Nós que atuamos no mercado da profissionalização lidamos com sonhos diariamente, com a magia que os jovens carregam em seus corações, de um futuro brilhante, essa energia gerada pelos aprendizes contagia. Diante da anunciação de uma paralização total sem previsão de retorno, ficamos todos num vazio existencial, onde não tivemos que aprender a lidar apenas com a ausência da presença física, mas também a ausência dessa vibração gerada pela oportunidade de um primeiro emprego, de uma colocação profissional e mais do que isso, a ausência das trocas geradas no contato físico dia a dia da aprendizagem.

O processo de aprendizagem envolve diversas etapas, esse ano mais do que nunca estamos todos aprendendo a lidar com as incertezas, com os medos, com a paciência, a esperança, não deixa de ser o que todo o ser humano lida diariamente com ou sem a pandemia. Porém o que se nota é que o ser humano se fortalece na coletividade, ou seja, como estamos todos enfrentando os mesmos sentimentos, já dizia a música: “a vida é um rio, estamos no mesmo barco, remaremos juntos, pra onde vai esse rio vai ainda não sabemos...” Mas, passando juntos por situações similares, sentimos maior empatia e resiliência para enfrentar algo tão adverso como essa realidade atual.

Percebe-se também que nesse novo jeito do mundo funcionar quem mais tem facilidade de se adaptar são as crianças e os jovens, pois é nessa fase da vida que surgem os maiores desafio e os processos de aprendizagem mais significativos, então quanto fazemos uma leitura do comportamento das pessoas, pudemos observar que os ditos “adultos” estão aprendendo com a juventude e a infância a como levar adiante suas vidas sem se deixar abater ou paralisar-se, encontrando novos meios de funcionamento.

Nossa rotina mudou nossa forma de cuidado também, percebemos em questão de pouco tempo o quanto éramos “livres” e agora estamos “presos” a esse vazio, vazio esse não de amor nem de reciprocidade, mas um vazio da presença, o vazio da interação. Percebemos que aquilo que parecia banal era essencial – o contato. Sabe-se que hoje em dia a tecnologia auxilia muito nas diversas formas de contato, mas há um que é insubstituível, o contato físico, esse traz consigo muitas outras formas de vida. Sentimos que a aprendizagem profissional necessita desse contato, pois é através da interação social que os jovens aprendem a lidar com os problemas, a compreender métodos e processos, a desenvolver habilidade, conhecimentos e atitudes necessárias para um ambiente de trabalho e também para se desenvolver enquanto profissional.

Fazendo essa leitura do nossa realidade, desse passageiro vazio, da compreensão dos jovens pode-se constatar o quanto estamos ainda nos adaptando com todas essas novas necessidades e também o quanto evoluímos enquanto sujeitos e o quanto necessitamos suprir esse vazio pela presença necessária um do outro. Presença essa que nos permite fortalecer e aprimorar a demanda da aprendizagem profissional.